Sunday 2 January 2011

PROGRAMA "AS HORTENSIAS"


Uma cena de "AS HORTENSIAS" com da E. para D., Jim Collier (Luciano),
Cindy Strand (Hortensia), Ray Hartman (Romao), Carol Dow (Norma) e
Linda Barrios (Kiten).
Programa "AS HORTENSIAS"
Posted by Picasa

"AS HORTENSIAS"

(Minidrama em 1 ato)
1973

De Aldo Calvet

A Bertha Lutz, Romy Medeiros da Fonseca, Jeronima Mesquita, Rose Marie Muraro, Dercy Furtado, Betty Friedam,T-Grace Atkinsons, Maria de Los Angeles, Evelyn Sommer, Carla Mereghetti e Wilma Scott Heide.

Homenagem --- Movimento Feminista de Libertacao.

Esta peca foi representada na University of Colorado, E.U.A., em apresentacao do Teatro Tupi, sob os auspicios do Center for the Hispanic Performing Arts, em abril de 1976, com direcao de Teresinka Pereira, musica de Julie Scandon, iluminacao de Donald Wadley e seguintes interpretes;

PERSONAGENS

1-Kiten                   --- Linda Barrios
2-Norma                 --- Carol Dow
3-Marilena              --- Dawne Dimas
4-Romao                --- Ray Hartman
5-Anibal                 --- Ralph Kite
6-Hortensia             --- Cindy Strand
7-Luciano               --- Jim Collier

Assim "Latin American Theatre Review" fez o registro desta peca:
"As Hortensias", a contemporary Brazilian play by Aldo Calvet which represents aspects of the women's movement in Brazil".

Excerpt:

                                                                  QUADRO UNICO

(Palco iluminado. Marilena esta entrando pela porta em arco a E., vindo do jardim. Traz uma cesta com flores)
NORMA --- (vendo Marilena e reparando nas flores)  Nao, Marilena. Sera que eu tenho de ir? Eu falei hortensias.
KITEN --- (A um gesto de Marilena, rindo e dividindo as silabas)  Falou! Mamae falou hortensias.
NORMA --- Pois nao e, Ki? Eu falei hortensias, voce ouviu, e Marilena me vem com rosas, lirios, cravos, orquideas . . .
KITEN --- (Interrompe,  a Marilena) Hoje e so hortensias, bicho!
NORMA --- (Diante da desolacao de Marilena)  Bem . . .     Bem . . .    Voce, Marilena, me parece tao desolada . . .
MARILENA --- (Corta) Nao senhora, dona Norma. Eu vou apanhar hortensias. Tem muitas hor . . .
NORMA --- (Corta) Eu sei que ha bastante: rosas, lilases, brancas . . .
MARILENA --- (Corta) Dona Norma quer de que cor? . . .
NORMA --- (Mesmo jogo, pois Norma e Marilena falam quase ao mesmo tempo) Das tres: lilas, rosa e branca. Mas pede para seu Romao colher. Ele sabe melhor . . .  (A um olhar de Marilena) Melhor que nos, naturalmente . . . e jardineiro . . . Vamos por as hortensias todas aqui nesta sala.
KITEN --- Mamae esta vidrada nas hortensias. Hoje, vamor curtir hortensias.
NORMA --- (A Marilena) Deixa essa cesta na sala de jantar. Um ambiente bem decorado exige flores ornamentais.
KITEN --- (A Marilena) De flores nos entendemos paca. Mete isso na cuca, bicho.
NORMA --- (Com um sorriso, estranhando o plural)  Nos?!
KITEN --- Entao, mamae? Voce ja esqueceu as aulas de horticultura com que, me encheu a cuca?
NORMA --- Aulas?
KITEN --- (Esclarece a Marilena) As aulas eram um barato. Saca so: logo que papai comprou esta casa a curticao unica era jardinagem. Cada bicho querendo curtir jardinagem mais . . .
NORMA --- (Corta) Um mais do que o outro.
KITEN --- (A um ar de descrenca de Marilena) Cascata?! Nao e cascata nao, ta! No duro.
NORMA --- E verdade. A horticultura contagiou toda a familia.
KITEN --- Ate os empregados que ja se mandaram . . .   Todo mundo na mesma curticao.
NORMA --- Marilena nao estava ainda aqui. Nao sabe.
KITEN --- Horticultumania . . .
NORMA --- Isso e teu pai com os neologismos dele.
KITEN --- Curso de jardinagem, livros, tratados, revistas especializadas, leituras diarias obrigatorias . . .
NORMA --- (No mesmo embalo) Conselhos e dicas de Cecilia Beatriz . . .
KITEN --- Arranjos de flores de Maria Luiza Figueiredo . . .   Aulas teoricas pelos que estavam mais por dentro . . .
NORMA --- Por dentro, nao, minha filha. Modestia a parte, mas eu sempre sabia mais, sempre explicava melhor . . .   Estava mais por dentro que voce, ah, isso estava.
KITEN --- (Corta) Por isso mesmo passamos todos, e ate papai, a te chamar (com enfase) de professora de arte de cultivar hortas e jardins. (Riem todas)
NORMA --- Marilena, fala a seu Romao para apanhar as hortensias das cores que tiver no jardim, entendido?
MARILENA --- (A sair) Sim, senhora. (Sai com a cesta pela porta da D.B.)
KITEN --- Hortensias!
NORMA --- Vamos encher esta sala so de hortensias.
KITEN --- (Gesto)  A sala vai ficar cheia! (OT) Vinte anos de amarracao . . .  E tome hortensias!
NORMA --- Entao? Vinte anos de casamento pleno de felicidade. Ki, nao e todo mundo que faz e nem sempre se faz.
KITEN --- Plena felicidade . . .  Escuta, mamae, que voce considera plena felicidade?
NORMA --- Ki um casal unido, vivendo sempre um para o outro, participando dos mesmos instantes de alegria como de tristeza e sobretudo pertencendo um ao outro . . .
KITEN --- (Corta) Ligados . . .
NORMA --- Fieis ao juramento conjugal diante do altar de Deus . . .
KITEN --- (Interrompe) Legal! A transa nao e nada facil . . . voce tem razao. Voce e papai estao se mantendo . . .
NORMA --- Teu pai adora hortensias. Quando casamos viemos passar a lua-de-mel aqui em Petropolis.
KITEN --- Hum! Que bacana! Que esnobacao!
NORMA --- Nada de esnobacao. Passamos nossa lua-de-mel num hotelzinho barato.
KITEN --- Barato?
NORMA ---  Barato que nao e um "barato".
KITEN --- Mamae, voce nao vai querer me fundir a cuca . . . com essa de hotelzinho pra gente pobre . . .
NORMA --- Eramos pobres. Ainda eramos pobres. Teu pai, um simples funcionario da carreira diplomatica. Ganhava uma miseria.
KITEN --- Voces estavam sucumbindo . . .
NORMA --- So prosperamos depois que Anibal deixou o emprego publico.
KITEN --- Legal!
NORMA --- Nossa lua-de-mel foi passada entre hortensias . . .  O dormitorio todo era so hortensias . . .  Claro! Estavamos na "cidade das hortensias". Quando completamos dez anos de casados . . .
KITEN --- (Corta) Nova curticao com muitas hortensias.
NORMA --- Dessa vez, teu pai chegava naquele dia de uma pequena viagem. Nao se lembrava da data. Ornamentei a sala com hortensias . . .
KITEN --- (Mesmo jogo) Ai o bicho lembrou!
NORMA --- Que bicho, menina?
KITEN --- Papai.
NORMA --- (Entre risos) Foi instantaneo: (Imita) aniversario de casamento! Espere. Deixe ver. Disse: dez anos!
KITEN --- Sacou! Que romantico! Hoje, os casais nao chegam a cinco . . .
NORMA --- Essas coisinhas aparentemente insignificantes . . .
KITEN --- (Interrompe) Insignificantes . . . ?!
NORMA --- Romanticos como entendem as novas geracoes, a geracao pier . . . sao essas coisinhas, Ki querida, que em vinte anos de matrimonio alimentam o amor, fortificam os lacos de amizade, unem e tornam a vida do casal repleta de felicidade. Assim, gracas a Deus, tem sido a minha vida com teu pai. (OT) Ah, vamos falar de flores, plantas . . .  O passado ja era . . .
KITTEN --- Esse jardineiro . . .

continua...


Copyright © All Rights Reserved by www.AldoCalvet.org

Thursday 30 December 2010

"NICOTINA S.A."

SINOPSE


                1) - Os meios de comunicacao divulgam que um cidadao de 125 anos acaba de ser pai. Mora em Inhauma e e cigarreiro de profissao.
                2) - Em um debate, medicos discutem a representacao do Brasil num congresso sobre cancer nos Estados Unidos. Diante da longevidade do cigarreiro de Inhauma, aventa-se a possibilidade de nao haver ele fumado, pois esta particularidade nao e ventilada na reportagem. Acreditam alguns da ciencia que seria um bom exemplo no mundo leva-lo ao conclave dos Estados Unidos.
                3) - Em face da crescente campanha contra o fumo, os empresarios tabagistas se reunem para tomar medidas de defesa, entendendo que a industria, o comercio, a lavoura, tudo relativo ao fumo esta ameacado de extincao em consequencia dos impostos excessivos e providencias outras humilhantes projetadas no Congresso Nacional como "Avisos", "Advertencias", nos macos de cigarro. As reacoes sao varias incluindo desemprego em massa com fechamento das fabricas, prejuizos incalculaveis dos trabalhadores e tambem do Tesouro que deixara de arrecadar taxas e impostos, fora as reservas em divisas, sabendo-se que o Brasil e o segundo maior exportador de fumo do mundo. Durante o exame da situacao critica, os empresarios tomam conhecimento da existencia do velho cigarreiro de Inhauma e acreditam que ele deve ter fumado toda a vida, constituindo, pois, prova de que o fumo nao prejudica a saude. Surge, entao, uma proposta: toma-lo como exemplo para uma grande publicidade.
                4) - Medicos e empresarios se defrontam com o velho cigarreiro de Inhauma o qual resiste a todas as insinuacoes para definir se fumou ou nao fumou. Para encerrar, ele aplica a indefectivel estrategia politica dos mineiros: "nao digo que sim nem digo que nao, muito pelo contrario."

OBS. : - Tudo e feito em termos dramaturgicos. Nao se propoe fazer propaganda de fumo ou desta ou daquela marca de cigarro, ainda que se fale em diversas marcas. Uma propaganda sobre o tema seria contra producente. Toda a problematica do tabaco e posta em discussao em termos teatrais farsescos.

ALDO CALVET

"NICOTINA S.A."


FARSA SOCIAL
3 ATOS

Escrita em 1970
Revista em 1982
Rio de Janeiro

all content© 2011 by AldoCalvet.org   All rights reserved.